Revolução Russa

A Rússia dos Czares

Era o início do século XX, 1915 para ser mais exato. A guerra havia me tirado tudo e ainda tirava de meus companheiros de trabalho, em São Petersburgo. Não tinha mais esposa, filhos ou casa. A maioria dos operários ou cidadãos russos que se encontrava na mesma situação culpava o czar Spiranovick II, culpado também pelas guerras na China e no Japão; outros seguiam o exemplo inglês e culpavam os alemães; quanto a mim, eu já nem sabia quem ouvir e preferia, na hora de apontar com meus colegas, como matas Spiranovick, e assumir o poder, ficar quieto. Meu nome a propósito, é Dimitri. O sentimento era o mesmo em meu país: as mulheres choravam os mortos e os homens os vingavam. E era justamente isso que estava conversando com Igor, um amigo meu de infância, e dois camponeses em certa tarde de verão. Foi quando estava conversando com um deles, o coitado do Pavel, que falei:

____Temos que entender que vivemos numa Rússia de contrastes entre o que há de mais moderno, em termos industriais, e uma sociedade predominantemente agrária. (Dimitri)

____ Ahã. (Pavel)

____ E ainda numa Rússia sem direitos trabalhistas. Trabalhamos por longas jornadas diárias, com baixos salários e somos explorados. E ainda por cima aquele folgado do czar nos põe em uma guerra que não podemos vencer! As armas que produzimos são ultrapassadas e insuficientes para enfrentar os alemães, o que gerou fome, queda da produção agrícola e enfraquecimento da nossa economia, basicamente feudal.

____ Ahã. (Pavel)

____ Não sei se vocês entendem, mas é duro pra mim acordar e de repente não ver o rosto de minha mulher ou os dos meus filhos e apenas ver uma Rússia arruinada.

____ Você tem toda razão, nós, camponeses, vivemos em condições miseráveis, com fome e técnicas agrícolas arcaicas, com o Pavel aqui tendo sido recrutado às pressas para participar dos combates no front. (camponesa)

____ Ahã. (Pavel)

____ Outra meleca que Spiranovick fez foi o dia de que não nos esquecemos; quando milhares de manifestantes e operários em greve morreram, o Domingo Sangrento. (Igor).

_____ O Pavel também estava nesta manifestação. (camponesa)

_____ Ahã. (Pavel)

Terminei a minha conversa me despedindo dos três e cumprimentando Pavel, aquele homem de poucas palavras, mas que sabe o que fala.

Revoluções de Fevereiro e Outubro

16 de fevereiro de 1917( 2 anos e seis meses após o primeiro relato)-  rebeliões populares, greves gerais, revoltas  armadas de soldados contra seus comandantes, uma grave crise de abastecimento e a atuação cada vez mais presente dos sovietes mudaram o cotidiano aqui em São Petersburgo. Sim, a revolução tão esperada já se iniciou. Os mencheviques pressionaram a Duma (Parlamento Russo) para a nomeação de um novo governo com o apoio geral de vários partidos, o que levou o covarde do czar a renunciar. Eu sempre soube que, no fundo, por trás daquele ar de rei, ele era meio frágil e afeminado. Posso finalmente escrever que agora minha nação é uma república liberal, que o czarismo já representa o passado e que fico feliz em comentar isso, afinal, é uma grande evolução.

16 de junho de 1917(4 meses após o antigo relato)-  não sinto uma Rússia evoluída, nego o que escrevi no antigo relato, não evoluímos porcaria nenhuma, nada, ficamos pior do que já estávamos, um lixo! O novo governo dominado por mencheviques insiste em manter-nos na Primeira Guerra Mundial e a crise aumentou com os camponeses reivindicando paz, terra e pão. É, eu fiquei bolado. Minha indignação falou mais alto do que minha posição em não tomar partido nem para o lado menchevique, nem para o bolchevique. Hoje, participei de minha primeira revolução como bolchevique em oposição ao novo governo, a repressão foi grande e, mesmo com muitas feridas que colecionei no Domingo Sangrento, senti orgulho por lutar por uma causa.

11 de setembro de 1917 ( 3 meses após o antigo relato)-  nós, bolcheviques, já tomamos como medida necessária a promoção de uma revolução socialista para tomar o poder. O plano já estava armado e dentre nossos objetivos priorizamos tirar o país da guerra, finalmente. Nossos líderes, Trotsky e um tal de Lênin ( meio carequinha se não me engano, nunca o vi), iriam comandar a revolução. Posso dizer que estou muito feliz.

25 de outubro de 1917(um mês após o antigo relato)- nunca estive tão triste na minha vida. Estava tudo certo: tínhamos tomado o palácio de inverno, depusemos Kerensky (aquele idiota) e assumimos o poder tirando a Rússia da guerra. Nem conseguia expressar minha felicidade, principalmente ao ser convocado para o II Congresso dos sovietes. Mas tudo isso foi até Igor vir falar comigo e com Pavel durante a comemoração da vitória sobre os mencheviques, nossa conversa começou assim:

____ Ouviram falar da formação do Exército Vermelho, liderado por Trotsky para combater os inimigos da Revolução? Todos estão comentando isso. (Igor)

____ Ahã.

____ Mas é claro! (Dimitri)

Na verdade, eu não fazia nenhuma ideia do que se tratava, quero dizer, só tinha dito aquilo para o coitado do Igor a fim de manter minha reputação de cara informado dentro do grupo bolchevique. Mas o que estava ocorrendo? Um exército? O que Trotsky queria com aquilo? Ele realmente esperava trazer o fim dos conflitos partidários e das crises com mais conflitos e repressões? O que Igor realmente quis dizer com ´´todos estão comentando isso“ ? E por que diabos Pavel só diz ´´ahã“? Quem ele pensa que é? Fui falar com Lênin e desabafei tudo:

____Você sabe o quão ridículo é a ideia de oprimir revolucionários fazendo-os sentir o que nós sentimos, de simplesmente não buscar a paz, não era esse o objetivo do novo governo ao tirar a Rússia da guerra…

Ele me ouviu sem dizer uma palavra. Quando acabei, apenas disse:

____ Os mencheviques nunca nos apoiaram e a população russa nunca nos respeitará por completo. Primeiro, fixaremos o socialismo aqui, depois, lutaremos por esse respeito da população, nem que isso provoque uma guerra civil, é o socialismo que trará a paz.

Com ele falando parece meio filosófico, mas pra mim ele é o típico cara que fala e fala e não diz nada. E esse foi o dia em que decidi deixar de apoiar os bolcheviques, não queria participar de um conflito que eu mesmo havia criado. E fiquei bolado de novo.

Guerra Civil

Janeiro de 1918- anunciaram o fim da Primeira Guerra Mundial, para nossa felicidade, mas anunciaram também o início da guerra civil russa. O Exercito Branco, apoiado pelos países estrangeiros, e os anarquistas estavam contra os bolcheviques, dominantes do governo. Eu era um mero telespectador do conflito até que me denunciaram de afiliação com os bolcheviques, avisei que não tinha mais nenhum laço com o partido, que era contra a guerra, mas de nada adiantou. Igor e meus antigos colegas de trabalho que tinham virado para o lado do Exército Branco me ameaçaram de morte. Ao voltar do trabalho, vi minha casa incendiada de longe e três homens corpulentos com bastões e pés-de-cabra nas mãos. Não tive tempo nem de analisar a situação, corri o mais rápido que pude, me escondi em casas abandonadas e fugi. Fui clandestinamente para a França e lá me firmei.

Janeiro de 1921 – anunciaram o fim da guerra na Rússia e a vitória do Exército Vermelho. Lênin havia me enviado uma carta. Pedia desculpas, disse que o Estado socialista havia sobrevivido, mas que a Rússia soviética estava arruinada e a economia do país devastada. Pediu-me conselho e minha volta para o país, e assim fiz.

A ditadura de Stalin

16 de fevereiro de 1924-  com a morte de Lênin (que ele descanse em paz!), iniciou-se uma disputa política entre Trotsky, que propunha uma revolução socialista mundial, e Stalin, que defendia que era necessário  primeiro a consolidação socialista no país. Eu defendia Trotsky em honra a Lênin, mas minha opinião não determinou nada. Stalin ganhou e firmou uma ditadura violenta que se voltava contra os que denunciassem a burocracia stalinista. Pavel me disse que ouviu boatos de pessoas acusadas de traição levadas para campos de trabalho forçado, criado pelo regime. E olha que os boatos nunca mentem.

Neste ponto, se encerram os relatos de Dimitri Alexander. Logo no dia seguinte, a seu último relato, Dimitri foi morto por um oficial da ditadura stalinista ao proteger uma criança, filha de bolcheviques, de ser executada. O oficial o reconheceu como remanescente da velha guarda bolchevique e o matou imediatamente. Pode-se dizer que, mesmo não tendo sido reconhecido como protagonista na revolução russa, participou de importantes mudanças na organização econômica do país tendo influenciado Lênin, um dos maiores personagens influenciadores do século XX e morto durante a ditadura de Stalin, que, mesmo sendo contra o próprio, foi durante o governo deste que a Rússia atingiu a categoria de potência mundial, tendo tido papel fundamental na vitória da Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Foi o único a enxergar o correto num mundo de injustiças, e posso dizer hoje que a Rússia, que ele sonhava se firmar, mesmo não socialista, se firmou: uma Rússia harmoniosa e próspera.

Por Daniel Vasconcelos do 9º ano A.